26.10.11

PAPO TORTO

Revirando uns disquetes e CDs antigos, descobri esse texto que escrevi em 2004 para a revista Ego by Will.(Sorocaba)


Revolução, não. EVOLUÇÃO

   Teatro e rock alternativo tem muito a ver levando em conta as pessoas envolvidas e o modo como  fazem a coisa funcionar. Se você prestar atenção, vai ver que nesses dois grupos existe um ambiente de respeito mútuo, quem sabe até complexo demais para quem não convive junto a um deles. Se você é branco, gordo, negro, gay, se você se veste esquisito demais, se dá ou não uns tapinhas, se é pobre ou rico, isso realmente não importa. Exemplo disso foi a bem sucedida união entre os membros da ATS (Associação Teatral de Sorocaba) e quatro bandas de rock independente da cidade, evento que aconteceu dia 03 de fevereiro e lotou a casa. A associação passava por um período de dificuldades e então pensaram em fazer um show com bandas da cidade para arrecadar uma grana e trazer esse público do rock independente conhecer o teatro independente. Uma luz se acendeu no escuro.

   Sim, nós temos rock e teatro que caminham com as próprias pernas, e vou te contar um segredo: Não é de hoje. Totalmente independentes de qualquer ajuda da balburdiante Secretaria de Cultura da cidade, a qual sempre que assediada, transfere seus pedidos com um chavão: “entrem com o projeto na LINC”. Quem sabe seja uma atitude “anti-dor-de-cotovelo” ou quem sabe seja falta de peito mesmo. Disputar projetos com as velhas raposas pra lá de matreiras, além de vencer a burocracia é tarefa difícil e quase impossível para quem não se organiza, e aqui está o ponto que critico os artistas: Não somos organizados, não conseguimos trabalhar em conjunto. Temos uma infinidade de grupos de teatro, bandas, grupos de dança, autores de livros e um debate-se com o outro, sem força, sem lobby e sem sentido. Quem leva é quem ceva a margem do rio e sabe bem a isca certa  pra usar. Nem persistência nós temos e fazemos disso tudo uma boa pauta pra simplesmente reclamar, reclamar e no outro dia esquecer  tudo e não fazer absolutamente nada, à espera de outra boa pauta para apenas reclamar de novo.

Não precisamos ouvir as estórias dos Secretários da Cultura de Sorocaba (no plural de propósito) que mais parecem um aparelho eletroeletrônico reproduzindo uma gravação enfiada na cabeça deles... Cansamos do fundamentalismo político. Queremos as cartas na mesa e jogo aberto. Essa é a única maneira de demonstrar direta e efetivamente a vontade de mudar pra melhor. A realidade é maravilhosa por pior que ela seja.

Na casa de um amigo esses dias vendo uns álbuns de fotos de shows antigos bem “toskos” com bandas Punk e tal... para minha surpresa, quem é que eu vejo numa foto sem camisa, com calça rasgada e  empunhando uma guitarra ao estilo mais Sex Pistols de ser??? O vereador Raul Marcelo tocando com sua banda Punk. Quase tive um treco. E aí veio na minha cabeça: “Putz, mas como esse cara ainda não fez nada para a cena rock da cidade?” Então fui atacado pela minha própria consciência:  “...mas não lembro de ninguém indo lá pedir nada pra ele...” - PORQUE? (este era o nome da banda) – Que ironia!!!

Sorocaba é pólo de bandas de rock sim, e quem duvidar que leia as revistas de rock mais conceituadas do país como a Rolling Stone, Bizz e Dynamite. Perguntem para o Gastão Moreira (Ex-VJ/TV Cultura) , para o Miranda da Tramavirtual, para o chefão José Antônio Algodoal (MTV) sobre o rock de Sorocaba. Vai lá e pergunta.
 Há mais de 20 anos ultrapassamos os limites nacionais com o rock do Vzyadoq Moe. “From Sorocaba, Brazil” eles descrevem nas revistas, nos sites... por mais engraçado que isso possa parecer. Então, alguém por favor me defina esse tal “efeito multiplicador”  demandado pelo edital da LINC e me digam qual projeto teve ou tem um efeito multiplicador que chegasse pelo menos aos pés da projeção das bandas independentes de Sorocaba? No que a cidade está contribuindo para com esses artistas? (...) Cadê o palco, onde está o lugar?  É de dar piriri quando vejo essa cláusula do edital.

Faz tempo que a Lei de Incentivo à Cultura não proporciona eventos de grande apelo popular, e o reflexo disso é você dentro da sua casa num domingo infernal assistindo Gugu, Faustão, ou outra porcaria do gênero, sem nada pra fazer e reclamando para as paredes. Se não fossem as ações independentes das bandas e artistas nem imagino em que pé estaria a cultura local hoje.

   “Revolução” não é palavra que cabe nessa história toda... Vamos troca-la pela palavra “Evolução” e aí sim vamos dar o primeiro passo para sair dessa briga de foice no escuro.